A minha arte é um exercício de autoafirmação, de ser quem eu sou, depois de muita inibição e fuga para dentro de mim.
Pinto o que vem de dentro do meu próprio eu. Não me inspiro no exterior. Ela é sobre mim.
É quase um vício, pela necessidade que sinto de me expressar e dizer quem sou. Esse é o meu mantra.
Como fiquei muito tempo recluso, sinto como se tivesse muito a dizer para o mundo, mas eu “digo” para a tela em branco, colorindo o que está escuro em minha vida. Liberto a mim mesmo da prisão sombria em que estava.
Sou meu próprio redentor, e a arte é a chave dessa cadeia.
A arte que faço também funciona como mensagem do meu subconsciente para o meu consciente.
Ao me expressar e também ao ver o resultado na tela ou no papel, organizo meus pensamentos e me entendo melhor. É o meu divã.
A partir disso, depois de pronta a obra, ela se torna a contraprova do estado da minha alma naquele momento, naquela fase da vida.
Assim, a evolução da minha arte também reflete a da minha alma. Elas evoluem juntas. A minha arte é meu espelho.
Com a ajuda dos conhecimentos que adquiri sobre a arte, sobre Deus e sobre mim, passo a perceber ou imaginar muitos significados em seu conteúdo. É o meu cicerone, apresentando o meu Eu, livro que escrevo e que me explica sobre mim mesmo ao lê-lo.
Também pode mostrar, de forma nítida ou velada (simbólica), o que passei na vida, situações que ainda lembro ou não lembrava mais, ou nunca vou lembrar, que se apagou da minha mente, ou até que não vivi, mas que, de alguma forma, ainda inexplicável e incompreensível, se concretizou nas minhas telas e papéis. Mostra os mistérios que ainda fazem parte da minha vida.
Também aparecem com bastante frequência, desenhos geométricos que são reflexos do que aprendi na faculdade de engenharia, o que prova a utilidade desses meus estudos, apesar de não ter tirado o diploma nem exercer a profissão. São os caminhos e desígnios divinos, que também nem sempre compreendemos.
Também são mostradas cenas que não me orgulho de ter vivido e, dessa forma, deixo-as lá, sem escancará-las ou mesmo explicá-las.
Já basta a vergonha de vê-las ali.
Também ocorre o oposto, ou seja, a minha arte aumenta minha autoestima ao perceber que também se manifesta de forma tão original e, novamente, inexplicável até o momento. Manifesta, portanto, as oscilações do meu ego.
Na minha arte, faço inúmeros pequenos detalhes que, simbolicamente, são minhas arestas que precisam ser aparadas, defeitos que necessitam ser corrigidos por mim mesmo ou por esse mundo exterior, que também me modifica.
Assim, reflete também as minhas inúmeras partes que precisam evoluir. É a representação do meu diagnóstico.
Busco a pintura do equilíbrio, da cura. Pintando, vou me curando, expondo os meus conflitos.
A arte é um meio que tenho de colocar para fora o que minha alma precisa.
Pinto meu interior, meu subconsciente, pois é aí que está a minha doença.
A dor me levou para a arte, e a arte me livrou da dor. Assim, ela é meu remédio.
Por isso, as cores que uso (variadas, alegres, vivas, harmoniosas e intensas) também incentivam a minha alma a ir por esse caminho.
São o fogo que acende a minha alma, o meu estímulo.
A arte também tem a virtude, devido à criatividade e às cores, de ser uma atividade alegre e divertida, permitindo-me entrar em contato novamente com a minha criança interior que, depois de tantos erros, tinha ficado doente e distante.
Sou mais feliz quando me dedico à arte e a faço no meu próprio estilo – quando ela vem de dentro.
É a fonte da juventude e a serotonina da minha alma.
A minha arte tem me transformado em um ser melhor a cada dia.
Transmuta meus pensamentos e sentimentos, inspira bons atos, tem influência nos meus hábitos e até no meu caráter.
É a pedra filosofal da minha alquimia.
A arte também é essencial por me fazer entrar em contato com meu Deus interior.
Assim, vou praticando esse dom que Ele nos dá para ser desenvolvido.
A minha arte revela o Deus que há em mim e explica, às vezes, de acordo com meus conceitos, o universo.
É parte da minha religião, um dom que me religa ao Criador.
Além disso, ela deixa a prova do que vivi e superei, sugerindo que todos também podem e devem olhar para a frente e para o alto como aprendi a fazer.
A arte é assim o meu legado e o meu conselho.
Curador
Fotográfo
Artista Plástico
Artista Plástico
Artista Plástica
Artista Plástica
Curadora e Artista
A pintura de Ricárddo P Pínto tem aspectos muito pessoais.
Destaca-se a construção de uma iconografia baseada em ícones próprios que configuram um universo mental e visual peculiar.
Alguns elementos têm especial relevância, como a capacidade de articular elementos plásticos.
É importante a forma como é trabalhada a cor.
São geralmente tonalidades fortes articuladas de modo a compor painéis marcados pela intensidade.
Linhas e círculos convivem de modo a estabelecer universos peculiares em que a harmonia se faz presente pelo diálogo entre os elementos.
A criatividade na maneira de desenvolver o trabalho aponta para a capacidade de realizar infinitas composições, geralmente dividindo o espaço de maneira quadriculada. Inexiste, porém, repetição de recursos.
A poética se instaura pela diversidade, num movimento interno de exploração de possibilidades visuais.
As maneiras de realizar a composição são regidas pela construção de padrões e desconstrução de expectativas.
A ideia está em surpreender constantemente.
A cada olhar, o novo se faz presente, principalmente pelas manifestações de um repertório que utiliza o espaço como um interminável manifestar de combinações.
(Oscar D’Ambrosio é doutor em Educação, Arte e História da Cultura e mestre em Artes pelo Instituto de Artes da Unesp)
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